.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pollyana Rabelo filha de Barra do Corda é a única mulher que faz parte do 1º Batalhão de Busca e Salvamento do Distrito Federal


do 1º Batalhão de Busca e Salvamento do Distrito Federal Os cabelos longos, castanho-escuros, com mechas loiras e o sorriso simpático de lábios pintados de rosa bem claro estampado no rosto de Pollyana Rabelo, 34 anos, escondem uma fortaleza.

Ao fitar seus olhos, porém, encontra-se a determinação de quem conseguiu tornar-se a única mulher entre 40 mergulhadores no 1º Batalhão de Busca e Salvamento (BBS), na Vila Planalto. Pollyana trabalha no Corpo de Bombeiros há 10 anos. Desde 2001, está lotada no local de onde sai o resgate para vítimas de afogamento, entre outros perigos aquáticos.

Pollyana conquistou no ano passado a patente de terceiro-sargento. Mas teve de ultrapassar vários obstáculos para chegar onde está. O primeiro deles foi o Teste de Aptidão Física (TAF) para entrar nesse setor da corporação, um dos mais rígidos. As provas exigiram, além de preparo corporal, concentração e força de vontade.

Durante 11 semanas seguidas, Pollyana teve de mostrar a cada um dos 48 participantes do curso — só havia ela e outra mulher, que não conseguiu chegar até o fim — que não estava ali para brincadeira. Sonhava com a profissão desde criança, às margens dos rios que cortavam sua cidade natal, Barra do Corda, no Maranhão. “Eu cresci na água. Sempre adorei. Amo esportes. Isso tudo me atraiu no Corpo de Bombeiros”, explicou.

Para provar a competência, nadou metros sem fim, correu mais ainda, até 10km por dia. Enfrentou uma rotina de flexões, caminhadas com pés descalços às margens do Lago Paranoá e provas de mergulho em apneia (nas quais o candidato conta apenas com o fôlego para mergulhar em grande profundidade), entre outros testes físicos exaustivos. Provou também que era capaz de resgatar uma vítima de afogamento de 100kg de dentro da água. Mas tudo isso não bastava. Era preciso raspar o cabelo de três em três dias. O comandante que ministrava o curso decretou: “Segunda-feira quero todo mundo aqui de cabelo raspado. Inclusive mulher”.

Ela ficou muda. Fraquejou. Havia alimentado expectativas sobre o assunto — assustador para a maioria das mulheres — desde o começo do curso. Depois de décadas de cuidados dedicados às madeixas — quantas hidratações, luzes e cortes! — Pollyana não foi poupada da exigência militar. Mas resistiu até o último momento. Era um domingo e ela precisava se apresentar com a cabeça raspada com máquina 1 no dia seguinte.

Pollyana abriu mão da vaidade feminina para alcançar um objetivo maior: o de se tornar mergulhadora. Chamou uma amiga dona de uma salão de beleza e a fez abrir as portas e pegar a temida máquina exterminadora de cabelos e vaidades. Viu uma a uma as mechas se desprenderem da cabeça.

História cinematográfica
À época, Pollyana cursava o 4º semestre de turismo em uma faculdade particular. Pesava 60kg quando entrou para o curso de mergulhador e na metade já estava com 54kg e o corpo torneado. Adotou dieta à base de legumes, macarrão e suco adoçado com mel e rapadura. “O pessoal do curso ficava me chamando de Demi por causa do personagem da Demi Moore no filme Até limite da honra. Ela também raspava a cabeça e passava por mil provações”, lembrou. Quando chegou à sala de aula, Pollyana logo chamou a atenção de todos. “Muita gente dizia que eu não ia conseguir. Mas eu sempre acreditei. Não me deixava abater”, contou. “Também tive muito apoio. Alguns amigos até rasparam a cabeça em solidariedade”, completou. “Depois eu até gostei de acordar já pronta para sair, sem precisar pentear cabelo”, brincou.

A recompensa para todo o esforço veio ao fim do aprendizado. Apenas 14 candidatos foram aprovados. Pollyana passou em sexto lugar. A única mulher. “Às vezes eu queria desistir. Principalmente depois da pausa para o almoço. Eu só queria dormir. Mas a outra menina que fez o curso comigo dava a maior força e me levantava. Aí eu pensava: depois de raspar o cabelo, só saio se eu morrer. À essa altura eu já tinha minha consciência tranquila de ter feito tudo que podia. Muita gente acha que é exagero passar por isso tudo, mas é necessário. A realidade vai exigir tudo isso da pessoa”, lembrou a sargento.

Até a chegada da sargento, que à época era soldado, não havia nenhuma mulher entre os funcionários do batalhão. O comando teve de criar uma ala feminina e estabelecer novas regras de comportamentos para os bombeiros. “Eles tiveram que andar menos sem camisa. Era estranho no início. Eles ficavam se policiando na minha frente para não falar palavrão. Mas hoje em dia é tudo muito natural”, orgulha-se.

Disputas
Há 332 mulheres entre os 5 mil bombeiros no DF, atualmente. Superá-las nem sempre é fácil. Os homens do 1º BBS sabem bem disso. Pollyana é quase sempre a vencedora das corridas e das disputas a nado. Os rapazes fazem de tudo para não perderem para uma “menina”. Mas reconhecem o valor de Pollyana. “Ela é a nossa Gisele Bundchen, a mais bonita da corporação”, brincou o soldado André Paixão, que fez o curso para ser mergulhador de resgate com Pollyana. Há, porém, quem ainda faça piadas. “O curso deles foi tão fácil que até mulher passou”, provocou um dos colegas. Mas Pollyana sabe que é tudo brincadeira. “Todos me respeitam muito porque sabem que estou aqui por mérito. Sou uma deles, até por isso eles têm liberdade para brincar assim”, disse.

Pollyana trabalha em uma escala de 24 horas de serviço por 72 horas de descanso. Nos momentos de folga, ela recebe os afagos do namorado, um policial civil, e vai à igreja presbiteriana, religião que aprendeu a cultivar com os pais, David, 88 anos, e dona Raimunda, 76. Ela e os 10 irmãos cresceram em um lar evangélico.

A sargento pretende se casar no próximo ano. Ela garante que o amado não tem ciúmes de vê-la rodeada por homens (em sua maioria) malhados, bronzeados e de sunga o tempo todo. “Ele tem segurança porque sabe que sou respeitada. E eu imponho um comportamento sério”, afirmou. “Mas assim que eu cheguei, vários colegas tentaram me namorar. Eu segui os conselhos que recebi no meu curso de formação de entrada no Corpo de Bombeiros e adotei uma postura séria. Não aceitei as investidas”, confessou.

O comportamento é sério, mas Pollyana não abre mão de se enfeitar. Usa batom, brinco de flor com brilhantes e procura manter as unhas feitas. “O meio em que a gente vive já é muito masculino, por ser militar. Vivo de farda. Tento dar um toque feminino”. Pollyana só se afastou do batalhão entre 2006 e 2008, época em que esteve cedida para a segurança pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira dama, Marisa Letícia. “Foi ótimo, viajei o Brasil e o mundo. Mas decidi voltar para o meu lugar. Me sinto muito privilegiada por estar onde estou”, concluiu.

Coisa de cinema
No filme dirigido por Ridley Scott e lançado em 1997, uma senadora pressiona o governo a aceitar uma mulher no grupo de elite da Marinha. A escolhida é a oficial Jordan, vivida por Demi Moore. A tenente recebe um treinamento e tem de provar que pode suportar altas doses de tortura física e emocional. A protagonista teve raspar o cabelo para o papel e malhar muito para ficar musculosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Barrafest.com.br - Aqui o destaque é você!

Deixe um Anúncio ou um Recado pra quem você quiser aqui ▼

☞ Seguidores Parceiros. Seja Você Também Um Seguidor do Maior Portal de Notícias De Barra do Corda.